Esta obra resultou da dissertação de mestrado – intitulada “O Funcionalismo Orgonômico de Wilhelm Reich e A Sua Concepção de Saúde-Adoecimento” – fruto da nossa pesquisa realizada, pelo seu autor, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, durante o período de 2017 a 2019.
Com esta obra procuramos descrever o percurso investigativo de Wilhelm Reich no desenvolvimento de algumas de suas ideias e teorias, especialmente, aquelas mais diretamente associadas ao funcionalismo orgonômico – a metodologia de investigação da natureza formulada por esse autor -, e sistematizar os principais conceitos que fundamentam a concepção orgonômica de saúde-adoecimento presentes na obra reichiana.
Mais especificamente, este livro visa: 1) descrever a trajetória da investigação científica realizada por Wilhelm Reich, no seu período psicanalítico (1920-1934), no período dos seus primeiros experimentos laboratoriais (1934-1939) e no período orgonômico (1939-1957); 2) descrever os estudos desenvolvidos acerca da orgonomia, da orgonoterapia e das demais terapias de base reichiana após a morte desse cientista, por outros pesquisadores; 3) descrever o funcionalismo orgonômico como metodo- logia do pensamento reichiano e sintetizar alguns de seus pressupostos epistemológicos; e 4) descrever a concepção orgonômica de saúde com base na sistematização e na articulação dos conceitos orgonômicos relacionados à energia orgone e à dinâmica vital do ser humano.
Ressalva-se, por um lado, que praticamente não existem trabalhos que contemplem e elucidem os aspectos relacionados à concepção orgonômica de saúde-adoecimento, o que torna a obra reichiana mal compreendida e, por consequência, desconsiderada pela comunidade acadêmica. Por outro lado, não se pode perder de vista que as ideias de Reich podem contribuir para a saúde pública e para o cuidado em saúde, tanto nas instituições e serviços de saúde (SUS) quanto na sociedade em geral (educação em família, na escola, autocuidado etc.).
Apesar do desenvolvimento do conhecimento reichiano posterior à morte de Reich, há, ainda, uma carência de trabalhos acadêmicos sobre o período orgonômico da obra reichiana. Os que existem sobre o pensamento reichiano são, em boa parte, superficiais (quando não equivocados), pois não exploram os fundamentos e as origens dos conceitos, lacunas estas que tentaremos suprir no presente livro. Assim, ainda que haja possíveis diversas aplicações do funcionalismo orgonômico no campo da saúde, atualmente, a principal barreira para aplicações e para o estudo do conhecimento reichiano – em especial da orgonomia – reside, justamente, na falta de esclarecimento e de entendimento racional sobre os conceitos que sustentam a doutrina da orgonoterapia e o funcionalismo orgonômico. Por isso, a apresentação de uma descrição sólida, aprofundada e sistematizada acerca da concepção orgonômica de saúde-adoecimento é, a nosso ver, a principal contribuição desta obra.